Celebração no Campo da Liberdade, em Blaj, reuniu dezenas de milhares de pessoas
Blaj, 02 jun 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje à celebração de beatificação de sete bispos romenos, considerados mártires pela Igreja Católica, que enfrentaram o regime comunista no século XX, condenando quem coloca a “ideologia” sobre as pessoas.
“Perante a feroz opressão do regime, [os bispos] demonstraram uma fé e um amor exemplares pelo seu povo. Com grande coragem e fortaleza interior, aceitaram ser sujeitos à dura prisão e a todo o tipo de maus-tratos, para não renegar a pertença à sua amada Igreja. Estes pastores, mártires da fé, recuperaram e deixaram ao povo romeno uma preciosa herança que podemos resumir em duas palavras: liberdade e misericórdia”, declarou, na homilia da Divina Liturgia que reuniu dezenas de milhares de pessoas na localidade de Blaj.
Francisco destacou que após a instauração do regime comunista na Roménia, os católicos enfrentaram uma política de “expulsão e aniquilação” que procurava silenciar as vozes dissonantes.
“É o que fazem as resistências e hostilidades que surgem no coração humano, quando no centro, em vez das pessoas, se colocam interesses particulares, rótulos, teorias, abstrações e ideologias, que, onde campeiam, nada mais fazem senão cegar tudo e a todos”, lamentou.
Sede testemunhas de liberdade e misericórdia, fazendo prevalecer a fraternidade e o diálogo sobre as divisões, incrementando a fraternidade do sangue que tem a sua origem no período de sofrimento em que os cristãos, divididos ao longo da história, se descobriram mais próximos e solidários”.
O último dia da viagem do Papa à Roménia, iniciada esta sexta-feira, é passado na região da Transilvânia, com a Divina Liturgia de beatificação dos sete bispos mártires greco-católicos (comunidade de rito oriental que reconhece a jurisdição do Papa), no Campo da Liberdade em Blaj.
O espaço está ligado à luta pela liberdade nacional e à perseguição dos católicos, durante o regime comunista do século XX, que a partir de 1948 exigia aos católicos que integrassem a comunidade ortodoxa, cuja jurisdição é nacional.
“Os novos Beatos sofreram e sacrificaram a sua vida, opondo-se a um sistema ideológico que recusava a liberdade, coercitivo dos direitos fundamentais da pessoa humana. Naquele triste período, a vida da comunidade católica foi colocada a dura prova pelo regime ditatorial e ateu: todos os bispos e muitos fiéis da Igreja Greco-Católica e da Igreja Católica de Rito Latino foram perseguidos e encarcerados”, recordou Francisco.
O Papa convidou todos os romenos a “superar o rancor com a caridade e o perdão”, alertando depois para novas “colonizações ideológicas”, de teor totalitário.
“Amados irmãos e irmãs, também hoje voltam a surgir novas ideologias que procuram, de maneira subtil, impor-se e desenraizar o nosso povo das suas mais ricas tradições culturais e religiosas, que desprezam o valor da pessoa, da vida, do matrimónio e da família”, advertiu.
No final da Missa, o Papa recitou a oração do Regina Coeli, antes da qual se dirigiu de novo à multidão, agradecendo o acolhimento que recebeu, por parte das autoridades religiosas e civis, na Roménia.
Aqui em Blaj, terra de martírio, liberdade e misericórdia, presto homenagem a vós, filhos da Igreja Greco-Católica, que, desde há três séculos, testemunhais com ardor apostólico a vossa fé. Que a Virgem Maria estenda a sua proteção materna sobre todos os cidadãos da Roménia, que sempre, ao longo da história, confiaram na sua intercessão. A Ela confio todos vós e peço-lhe que vos guie no caminho da fé para avançardes rumo a um futuro de autêntico progresso e paz e contribuirdes para a construção duma pátria cada vez mais justa e fraterna”.
Após a oração de bênção e consagração do ícone dos novos beatos, o cardeal Lucian Muresan dirige uma saudação ao Papa e, em nome da Igreja Greco-Católica Romena, oferece-lhe um presente de prata contendo algumas relíquias dos novos beatos.
OC
Os sete novos beatos da Igreja Católica
D. Vasile Aftenie, bispo e vigário-geral de Bucareste e do Vechiu Regat, faleceu no dia 10 de maio de 1950, no hospital prisional de Vacaresti, com 51 anos.
D. Valeriu Traian Frentiu, bspo de Oradea e decano dos bispos greco-católicos, morreu no dia 11 de julho de 1952, na prisão de Sighet; tinha 77 anos de idade.
D. Ioan Suciu, administrador apostólico da Igreja Metropolitana de Blaj, morreu de fome e por falta de tratamento médico em 27 de junho de 1953 na prisão de Sighet aos 46 anos.
D. Titus Liviu Chinezu, ordenado bispo na clandestinidade em 1949, faleceu no dia 15 de janeiro de 1955 na prisão de Sighet, doente, na ausência de qualquer tratamento médico; tinha 51 anos de idade.
D. Ioan Balan, bispo de Lugoj, morreu no dia 4 de agosto de 1959, aos 79 anos, no Mosteiro de Ciorogarla, onde se encontrava em prisão domiciliaria depois de ter sido separado dos outros três bispos que sobreviveram na prisão de Sighet.
D. Alexandru Rusu, bispo de Maramures, morreu aos 79 anos, no dia 9 de maio de 1963, na prisão de Gherla, onde cumpria uma sentença de prisão perpétua recebida em 1957 por “instigação e alta traição”.
D. Iuliu Hossu, bispo de Cluj-Gherla, que leu a declaração de união de 1918 em Alba Iulia (ato fundador da Roménia moderna), sobreviveu à prisão em Sighet; viveu em prisão domiciliária no Mosteiro de Caldarusani, onde morreu em 1970, com 85 anos de idade; foi nomeado cardeal em segredo (in pectore) em 1969, pelo Papa Paulo VI.
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