sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Terroristas islâmicos em Moçambique decapitam mais de 50 pessoas

Macomia, Moçambique

AED

Reportagem local - publicado em 12/11/20

Eles esquartejaram os corpos num campo de futebol transformado em local de execuções: entre as vítimas, ao menos 15 crianças e jovens

Terroristas islâmicos em Moçambique decapitam mais de 50 pessoas: a chocante notícia veiculada nesta semana pela mídia mundial e dá um indício do nível de horror que se vive hoje na parte norte do país africano de língua portuguesa.

O grupo terrorista autodenominado Estado Islâmico na África Central atacou a pequena localidade de Muidumbe, na província de Cabo Delgado. Os fanáticos decapitaram mais de 50 pessoas e esquartejaram seus corpos num campo de futebol, que o grupo transformou em local de execuções. Entre as vítimas estão ao menos 15 crianças e jovens.

Os militantes islâmicos se declaram ligados ao mesmo Estado Islâmico que aterrorizou o Iraque e a Síria, onde hoje tentam se reorganizar após as pesadas derrotas militares que sofreram.

Terroristas islâmicos em Moçambique

Em Moçambique, os confrontos têm acontecido desde 2017 na província de Cabo Delgado, que é rica em gás natural, mas tem população muito pobre. Os jihadistas exploram essa pobreza para recrutar novos adeptos, visando o controle da região.

Desde que invadiram a província, os fanáticos já mataram mais de 2 mil pessoas e provocaram a fuga de pelo menos 430 mil. É comum que os jihadistas disparem contra civis, incendeiem casas, sequestrem mulheres e executem pessoas.

O governo moçambicano pediu ajuda internacional para conter os brutais e covardes ataques dessa corja de fanáticos, que intensificaram drasticamente os níveis de violência ao longo de 2020.

Uma das vozes mais ativas em denunciar e organizar ajudas para a população apavorada é a de dom Luiz Fernando Lisboa, bispo da diocese de Pemba, capital da província. O bispo, que é brasileiro, está ameaçado de morte.


do site Alateia


Papa preocupado: o Estado Islâmico chegou a um país de língua portuguesa


Reportagem local - publicado em 25/08/20

Francisco telefonou para o bispo local, o brasileiro dom Luiz Fernando, ameaçado de morte

No Ângelus deste 23 de agosto, o Papa Francisco declarou:

“Desejo reiterar a minha proximidade à população de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, que sofre com o terrorismo internacional. Faço isto na memória viva da visita que fiz há um ano àquele amado país”.

Sob o terror

Milicianos jihadistas ligados ao Estado Islâmico incendiaram a igreja de Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique, além do colégio Januário Pedro, o hospital distrital e dezenas de casas, carros e lojas.

ISLAMIST TERROR;MOZAMBIQUE
Ajuda à Igreja que Sofre
Igreja destruída por jihadistas em Mocímboa da Praia, Moçambique

A cidade portuária fica na região do Cabo Delgado, rica em reservas de gás natural liquefeito. A jazida é uma mais importantes da África e atrai grandes investimentos para a sua extração. Invadida pelos jihadistas e por bandeiras pretas, principalmente desde junho, a província está apavorada: as pessoas, com medo de ataques repentinos e brutais, estão fugindo sem levar praticamente nada.

O Estado Islâmico espantou o mundo ao se aproveitar das instabilidades que se seguiram aos levantes populares da fracassada “Primavera Árabe”, a partir do final de 2010, para conquistar territórios e implantar um regime de terror principalmente nas regiões mais debilitadas pela fragmentação do poder entre facções em combate, como o Iraque, a Síria e, pouco depois, a Líbia. Além disso, aliou-se ao selvagem bando de fanáticos terroristas islâmicos Boko Haram, da Nigéria, um dos mais sanguinários da atualidade. Apesar da derrota do Estado Islâmico no Oriente Médio e da perda da quase totalidade dos territórios que havia conquistado e devastado, o grupo de assassinos mantém células ativas e laços com vários outros bandos doentios em diversas regiões da Ásia e da África.

Agora, pela primeira vez, o grupo está começando a espalhar o seu fanatismo terrorista de modo mais intenso num país de língua portuguesa.

Telefonema do Papa

O Papa Francisco telefonou no dia 19 de agosto para o bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, que é brasileiro e está ameaçado de morte. Sua diocese fica na região invadida pelos terroristas.

Francisco orientou dom Luiz Fernando a manter contato com o cardeal Michael Czerny, do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, que o ajudará na assistência humanitária à população local.

LUIZ FERNANDO LISBOA
Foto: Leandro Martins
Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo de Pemba, Moçambique

Por sua vez, dom Luiz Fernando contou ao Papa que, depois dos ataques, além das pessoas assassinadas, do terror entre os sobreviventes e da destruição provocada na região, há também duas freiras desaparecidas, ambas da congregação internacional das Irmãs de São José de Chambéry.

Uma região desolada pelo sofrimento

O Papa visitou o país em 2019. O lema da visita foi “Esperança, paz e reconciliação”. Moçambique vinha de uma guerra civil devastadora, principalmente em suas regiões centro e norte. Além disso, também sofreu os efeitos arrasadores dos ciclones Idai e Kenneth, com mais um rastro de mortes e miséria.

Cyclone Mozambique
© fivepointsix - Shutterstock

Pemba, Moçambique, devastada pelo ciclone Kenneth (2019)

O novo fantasma é o jihadismo.

Segundo informações da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, mais de 500 mil pessoas são afetadas pela tragédia humanitária na região, com centenas de mortos e cerca de 200 mil deslocados.

Dom Luiz Fernando Lisboa vem denunciando internacionalmente a violência que devassa o país e tem feito apelos intensos pelo fim da onda de violência e mortes que se agravou a partir de outubro de 2017 e assim prossegue até hoje, com preocupantes perspectivas.

Moçambique: Irmãs de São José descrevem ataque jihadista “forte e cruel”


Fundação AIS - publicado em 14/06/20

As irmãs, sabendo “do risco” que corriam, pois a região estava já sobressaltada pela ameaça dos grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, abandonaram a missão dias antes

É a primeira vez que as irmãs Carmelitas Teresas de São José descrevem o mais recente ataque de grupos terroristas em Macomia, que ocorreu no final de Maio. Segundo a descrição da irmã Blanca Nubia Castaño, “o ataque”, que começou na madrugada de 28 de Maio, “foi forte, cruel e durou três dias”.

As irmãs, sabendo “do risco” que corriam, pois a região estava já sobressaltada pela ameaça dos grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, abandonaram a missão dias antes.

Só na passada quinta-feira, dia 4 de Junho, “apesar de os riscos não terem passado totalmente”, as irmãs decidiram regressar a Macomia para ver a dimensão dos estragos causados pelos terroristas.

Nas palavras da irmã Castaño, a destruição foi brutal. “Como resultado desta barbárie, temos a zona urbana totalmente destruída, a maioria das infraestructuras do Estado danificadas e a zona comercial reduzida a cinzas.”

Além da destruição material, importa apurar o número de vítimas. Mas essa contabilidade ainda está por fazer. “Ainda não sabemos o número de vítimas civis e nem das forças [de segurança]. Só ontem, [dia3 de Junho], as pessoas começaram a voltar lentamente para as suas casas, algumas foram queimadas, outras saqueadas… Lembrem-se que há apenas um ano que vivemos a destruição da passagem do ciclone Keneth…”

A missão das irmãs Carmelitas Teresas de São José foi poupada, mas, ao que parece, segundo a irmã, apenas por estar situada relativamente fora da zona atacada pelos terroristas. “A nossa missão salvou-se por estar na parte alta, ao lado de uma base militar. Apesar de os riscos não terem passado totalmente, hoje [dia 4 de Junho] decidimos ir visitar, encorajar e ajudar pelo menos os nossos trabalhadores e as suas famílias. Por questões de segurança, tivemos que voltar hoje mesmo para a outra missão onde estamos refugiadas.”

A Irmã Blanca Castaño refere ainda, na mensagem que colocou nas redes sociais, o sentimento de indignação perante o cenário de destruição a que ficou reduzida a zona. As irmãs estão presentes em Macomia há 16 anos, desenvolvendo um trabalho notável na área educacional. “Desde há dois anos e meio”, escreve ainda a religiosa, a região de Macomia, como aliás toda a província de Cabo Delgado, tem vindo a ser “aterrorizada” por ataques cruéis por parte de grupos armados jihadistas.

“Dói-nos a alma pelo atropelamento aos nossos irmãos, ficamos indignadas com a injustiça, ficamos tristes com a incerteza e sentimo-nos impotentes. Só nos resta esperar e confiar no Deus da Vida”, escreve ainda a irmã Castaño.



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário